O Fim da Página

Um movimento que se vê em constante avanço desde o início do progresso cibernético é a derrocada da mídia impressa. Com tiragens modestas, os jornais sobrevivem claudicantemente de assinaturas digitais, e já é lenda entre os mais jovens o conceito de um livro que contenha sucintamente todo o conhecimento adquirido pela humanidade até hoje.

O mais recente dos passos rumo ao fim do impresso foi o uso deliberado de textos do New York Times pela Microsoft e OpenAI a fim de treinar suas inteligências artificiais, o que levou a um processo judicial. Com a capacidade de burlar a barreira de acesso exclusivo a assinantes e recitar artigos letra por letra sem qualquer ganho revertido ao veículo, o ChatGPT põe esse mercado em risco e antecede o fim dos mais tradicionais meios de comunicação.

Alguns podem ver essa cadeia de eventos como algo natural, já que a humanidade lidou com várias alterações nos meios de comunicação que antes pareciam inimagináveis. Entretanto, essa generalização pode ter consequências funestas. Trago à memória os eventos de agosto do ano passado, quando o governo do estado de São Paulo rejeitou a entrega de dez milhões de livros do Ministério da Educação em favor da distribuição de E-books nas escolas públicas. Uma manobra que quis dar ares de progresso a uma condenável economia em recursos necessários, visto que grande parte dos alunos não dispõe de aparelho celular para acessar o material. Felizmente, a pressão de inúmeras pessoas e instituições causou o retorno ao modelo impresso.

Não há como advogar, porém, pelo fim da educação digital. É necessário o ensino de ferramentas como o computador e a Internet, afinal, até mesmo a impressão de livros depende delas na atualidade. Mas é de mister importância que sejam usadas de maneira sóbria, visto que, pela grande quantidade de informação pouco acurada na rede, o caminho mais confiável não é necessariamente o mais facilmente encontrado, enquanto os livros físicos usam metodologias rigorosas de pesquisa. Também vale dizer que um conceito é melhor assimilado quando lido numa enciclopédia, e uma palavra é lembrada por muito mais tempo quando procurada no dicionário se levarmos em conta os processos físicos envolvidos na acquisição do conhecimento, como o ato de folhear as páginas ou percorrer entre os verbetes.

É com pesar que presenciamos as novas gerações cada vez mais distantes disso. Em meio à ascensão das bibliotecas digitais estão caindo o número de leitores e escolas com bibliotecas físicas.